Flavio Motta: 100 anos

Publicado em 2 de outubro de 2023
ADI

Hoje, dia 02 de outubro de 2023, Flavio Motta completaria 100 anos. Artista múltiplo, crítico e historiador da arte, graduou-se no curso de Pedagogia da FFCL USP em 1947. Lecionou em diversas instituições que se constituíram ao longo dos anos 1950, como o MASP e o curso de Formação de Professores de Desenho da Fundação Armando Álvares Penteado. No entanto, foi no curso da FAUUSP, no qual atuou por quase 30 anos, que desenvolveu com maior profundidade suas propostas didático-pedagógicas, pavimentando relações duradouras entre o ensino de arte e de arquitetura, entre história e projeto.

Flavio Motta e Vilanova Artigas, em 1984. Foto de Abelardo Alves Neto.

Ao mesmo tempo em que foi parceiro de trabalho e colaborou em projetos de diversos arquitetos e artistas – como Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Ruy Ohtake, Carmela Gross e Marcello Nitsche – aprofundou seus interesses pela vida urbana e pelas relações do desenho com o mundo contemporâneo, a produção industrial e a arte popular, transitando por diferentes formas de diálogo entre a arte a técnica, entre a arquitetura e a cidade, expandindo os lugares de investigação de arquitetos e urbanistas e conformando novas fronteiras de pesquisa.

Como professor na FAU, formulou um novo campo de estudos na arquitetura – a Estética do Projeto, um lugar de encontros multidisciplinares, onde o fazer conduz à reflexão e a síntese, pois provoca um conhecimento específico, que não pode ser adquirido de nenhuma outra forma a não ser no próprio enfrentamento da obra ou do projeto. Ao aproximar ação e crítica, fazer e pensar, Motta reconhece novos saberes e compreende que é através do fazer que o homem encontra seu lugar no mundo:

Num projeto, num trabalho artístico, se instaura o novo, isto é, o homem se situa com individualidade e se realiza histórica e socialmente. Assim, num projeto, aquilo que existe deve permitir um humano existir ainda não existido. [Motta, Flavio. “o AUH e o TGI”, texto publicado no documento Currículo da FAU para 1976.]

A relação da arquitetura com a arte encontrou em Flávio Motta uma possibilidade de ultrapassar os seus sentidos convencionais e passou a integrar um projeto pedagógico renovador, que reconhecia novos saberes e o lugar da prática. Ao compreender o fazer como síntese, Motta constituiu na FAU a possibilidade de uma educação da sensibilidade, da investigação estética e teórica do universo visual, do cultivo da perspectiva histórica e crítica e de novos entendimentos do projeto. É precisamente na construção desse lugar de experimentação e renovação que se situam muitas das contribuições de Flavio Motta, essa figura de atuação plural, que se manteve em permanente trânsito entre variadas linguagens e disciplinas, e cujo legado perdura nos nossos espaços de formação e nossa prática até os dias de hoje.

*Texto da Arq. Juliana Braga

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