Publicado em 29 de março de 2021
ADI
A chegada da pandemia de covid-19 no começo de 2020 alterou a estrutura da sociedade em todos os setores. Na FAUUSP, lidar com as peculiaridades impostas por uma repentina obrigatoriedade de adesão ao ensino remoto trouxe um desafio a todos os membros de nossa comunidade.
Em entrevista, Giorgio de Giorgi Junior, coordenador de nossa graduação em Design, conversou conosco sobre como o curso tem vivenciado este período.
Quais as maiores dificuldades enfrentadas por docentes e estudantes e quais ações foram desenvolvidas a fim de minimizá-las?
Giorgio: Por sua própria natureza, mais próxima do universo das ferramentas digitais, o convívio do Curso de Design com o ensino remoto foi razoavelmente bem-sucedido. Isso, porém, está longe de se poder dizer que o ensino remoto seja bem-vindo.
Sob a perspectiva dos docentes, disciplinas preponderantemente teóricas ou voltadas ao universo do projeto e da comunicação bidimensional adaptaram-se com certa desenvoltura às novas contingências. Contudo, disciplinas voltadas ao projeto e produção tridimensional ressentiram-se da impossibilidade de utilização dos correlatos e imprescindíveis laboratórios de experimentação. Embora o apoio da Diretoria à iniciativa de distribuir kits de materiais aos alunos tenha contribuído para atenuar as consequências dessa lacuna, inequívoco foi o prejuízo.
Quanto aos alunos, além da perda do convívio social, particularmente grave para os ingressantes, e da impossibilidade de acesso à biblioteca, disparidades tecnológicas entre equipamentos disponíveis no ambiente doméstico impediram a equalização entre as condições de partida para a elaboração dos exercícios propostos por cada disciplina. Ainda, a recorrência ao hábito de manter a câmera fechada nas atividades remotas tolheu da comunicação aluno-professor o precioso recurso do “olho-no-olho”. Por fim, mas não em último lugar, o fato de muitos alunos do Design já estarem inseridos no mercado de trabalho, somado ao conhecido patamar de exploração propiciado pela adesão compulsória ao “home office” – agravado, aliás, pela vulnerabilidade decorrente das incertezas do contexto -, reduziu-lhes enormemente o tempo disponível para o estudo.
“o hábito de manter a câmera fechada nas atividades remotas tolheu da comunicação aluno-professor o precioso recurso do ‘olho-no-olho'”
Quais as expectativas para o primeiro semestre de 2021 e quais evoluções espera-se enxergar em comparação ao semestre passado?
Giorgio: Embora o contexto tenha-se agravado, alunos e professores conseguiram construir ao longo do ano passado um patamar de intercâmbio que, longe de ser o desejável, pelo menos nos permitiu administrar as inevitáveis perdas decorrentes da pandemia. A incógnita, porém, reside na amplitude da tragédia que se prenuncia.
Existe alguma experiência construída no período de ensino remoto que pode ser aproveitada após o retorno às atividades presenciais?
Giorgio: As disciplinas que, pela própria natureza, melhor se adaptaram ao contexto, certamente deverão refletir sobre e, eventualmente, incorporar estratégias mistas de ensino. Não se exclui que tais procedimentos tragam benefício para o desenvolvimento das mesmas. Nesse sentido, será necessário acompanhar as possibilidades abertas pelo ora constante aprimoramento das principais ferramentas tecnológicas disponíveis, bem como as eventuais inovações no campo. Porém, dada a saudável ampliação do alcance social da USP, será imprescindível equacionar e equalizar o suporte tecnológico disponibilizado a cada aluno, a modo de atenuar – e não agravar- a desigualdade que se pretende combater.
Por fim, no momento oportuno também será preciso avaliar a sobrecarga de trabalho dos docentes, já que a comunicação remota funciona melhor em grupos pequenos, impactando o tempo dedicado à orientação dos alunos.
Conheça aqui trabalhos desenvolvidos em disciplinas de projeto do Curso de Design em 2020.