Publicado em 12 de maio de 2023
ADI
Unidos pelo desafio de desenvolver investigações científicas e promover estudos na intersecção transdisciplinar das representações, do imaginário e da tecnologia, pesquisadores de diversas áreas de conhecimento congregam-se há 10 anos no RITe, sediado no Atelier de Escultura e Pesquisa da Forma Caetano Fraccaroli na FAUUSP.
Formalizado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq em abril de 2013 pelo professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, Artur Rozestraten, o grupo reúne docentes-pesquisadores, graduandos e pós-graduandos, que se dedicam à investigação científica de temas pertinentes ao campo ampliado da Arquitetura e do Urbanismo que interagem com representações e com processos de produção de objetos, edifícios e espaços urbanos.
Este grupo de pesquisa que hoje reúne pesquisadores de diferentes institutos de ensino superior de dentro e de fora do país teve origens em projetos de pesquisas desenvolvidas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAUUSP). Dentre estes projetos iniciais está o projeto Arquigrafia, hoje temático FAPESP como Experiência Arquigrafia 4.0, que se dedica à construção de uma plataforma colaborativa, aberta e gratuita, com foco em imagens ligadas à arquitetura, ambientes e espaços urbanos no Brasil e no mundo lusófono.
O professor Artur explica que atualmente participam do grupo docentes-pesquisadores de outros unidades da Universidade de São Paulo, como a Escola de Comunicação e Artes (ECA) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME), além de colaboradores da Universidade Federal de Santa Maria, da Federal de Goiás, da Federal de Uberlândia, assim como parceiros de instituições estrangeiras na Argentina, Chile e França.
“Um grupo de pesquisa é configurado como um coletivo de pesquisadores que se dedica a uma temática comum, no caso, a temática em torno das representações na confluência dos estudos do imaginário e das questões tecnológicas. Cada pesquisador contribui para projetos que são conduzidos dentro desse grupo e que se constituem em linhas de pesquisa específicas”, explica Artur.
Origem
Diferente de outros grupos de pesquisa, que podem ser criados para desenvolver um projeto específico ainda inicial, o RITe surgiu a partir de uma certa maturidade da equipe dedicada ao projeto colaborativo Arquigrafia que já vinha sendo desenvolvido desde 2009. O projeto foi o núcleo de origem da reunião de pesquisadores que depois ganhou a forma de um grupo de pesquisa formalizado no CNPq.
“O surgimento do RITe não é assim tão óbvio, pois muitas vezes, pesquisadores se reúnem e tentam montar um grupo de pesquisa, antes ou sem terem exatamente um projeto que os movimente. No nosso caso houve a colaboração em um projeto como o primeiro passo para depois vir a organização do grupo de pesquisa. Esta precedência de um projeto foi muito relevante no processo, pois era o mote inicial que nos reunia e que criava uma equipe multidisciplinar e a partir desse projeto decidimos montar e consolidar o grupo de pesquisa, que agora completa 10 anos de existência”, salienta Rozestraten.
10 anos de atividades
Muitos resultados significativos já foram registrados nestes 10 anos, dentre os quais 101 publicações, sendo:
Além disso destacam-se os números de formações alcançadas desde 2013: 25 ICs concluídas e 6 em andamento (com bolsa), 60 TFGs/TCCs concluídos e mais 5 em andamento, 23 Mestrados concluídos e 9 em andamento, 7 Doutorados concluídos e 8 em andamento e ainda 3 Pós-doutorados concluídos e 2 em andamento.
Segundo o professor Artur Rozestraten podem ser reconhecidos como resultados do RITe todas as publicações feitas pelos membros que participam (artigos, resumos, manuais, capítulos e livros), as sete edições do seminários de pesquisa do RITe já realizados, os desdobramentos do RITe e a colaboração do grupo de pesquisa nas quatro edições do Colóquio Internacional – Imaginário: Construir e Habitar a Terra (ICHT) que ocorreram em São Paulo e na França, em uma parceria entre professores da FAUUSP e do SENAC/SP e da UFPE-Recife. O ICHT, aliás, está em sua 5ª edição com a temática dos Imaginários Urbanos e lançou uma chamada de trabalhos.
As relações criadas pelo grupo de pesquisa com projetos de pesquisa desenvolvidos ao longo desse período não podem ser esquecidas, mas as trajetórias de formação de jovens pesquisadores ao longo de 10 anos foram marcantes. O grupo conta hoje com dezenas de jovens pesquisadores formados em iniciação científica, mestrado, doutorado e no pós-doutorado.
“Eu entendo que esse é o principal resultado do Grupo. O desdobramento e a multiplicação das questões que foram formuladas tornaram o grupo bastante numeroso e ativo, com a participação de jovens pesquisadores que hoje são docentes e que também orientam outros pesquisadores. Assim nós entendemos que o conhecimento vai sendo tanto multiplicado, qualificado e distribuído em outros lugares, além de ser fortalecido em termos metodológicos, tornando-se mais rigoroso e abrangente”, conclui.
A participação em um grupo de pesquisa pode ser considerada fundamental para ampliar a condição individual da investigação científica para uma instância coletiva. Ao participar de um grupo de pesquisa o estudante se dá conta, por exemplo, de que aquela pesquisa específica a qual ele se dedica se relaciona a outras com temas afins e complementares permitindo o estabelecimento de algum tipo de relação. Em outros casos, os estudantes percebem que os temas são realmente bastante distintos, mas há proximidades entre os procedimentos metodológicos, ou quanto à fundamentação conceitual ou ainda por uma questão motriz compartilhada. Esse tipo de meta-reflexão, ou seja, uma reflexão a respeito da reflexão proposta pela pesquisa é fundamental para o amadurecimento dos jovens pesquisadores.
Esta dimensão coletiva da pesquisa também é o desdobramento mais significativo do grupo, relata o professor Gil Barros, vice-coordenador do grupo e docente da FAUUSP. Ele desenvolve suas pesquisas sobre métodos e estruturas conceituais para suporte ao pensamento projetual, que é uma das linhas de pesquisa do grupo.
“Cada um de nós tem autonomia na sua atividade. Existem atividades que são de iniciativas do Artur, mas contam com alunos meus vinculados ao grupo, e outras sob a minha orientação com a participação de orientandos de colegas para o desenvolvimento de trabalhos comuns”, explica Gil Barros.
Seu primeiro envolvimento com o grupo foi durante a pesquisa de pós-doutorado, relacionada ao Projeto Arquigrafia. Ao se tornar docente na FAUUSP o vínculo foi consolidado e em 2017 se tornou vice-coordenador do grupo.
“Este grupo sempre foi um espaço de troca muito interessante, pois propicia para os pesquisadores a possibilidade de trazer suas questões e encontrar outros interlocutores para além da relação com o orientador direto”, lembra o professor Gil.
Enquanto vice coordenador do grupo o professor destaca que foi possível observar os diversos temas conversando entre si e a ver pesquisadores diferentes se encontrando.
Na opinião do professor Gil Barros, o resultado mais importante do grupo é a consolidação destes encontros regularmente, em particular o Congresso Internacional ICHT e o Seminário de Pesquisa anual do grupo, pois estes se estabeleceram como um ponto de encontro do grupo e de outros pesquisadores, como uma espécie de check-up anual de como as pesquisas estão se desenvolvendo entre os participantes, seja de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, sejam elas de curta ou longa duração.
“Acredito que esses encontros regulares se estabeleceram como um espaço muito rico, de muita liberdade para discussão de ideias preliminares que estão em desenvolvimento. Ao contrário de se apresentarem apenas os resultados de uma pesquisa o seminário do grupo serve como um espaço para mostrar resultados ainda parciais e o andamento das pesquisas, e nele podemos debater isso entre os pesquisadores. É isso que se espera de um grupo de pesquisa”, finaliza Gil.
O RITe na minha vida
“O RITe contribui continuamente na minha formação na medida em que possibilita diálogos e interações com colegas, docentes, pesquisadores, tanto da Universidade de São Paulo quanto de outras universidades e instituições de ensino superior, brasileiras e estrangeiras. Especialmente os contatos com colegas de áreas complementares a arquitetura e ao urbanismo, o que dá uma característica propriamente transdisciplinar para o RITe, porque as questões que a gente tem enfrentado se colocam um pouco além daquilo que seria um limite já conhecido de intersecção dessas áreas.
Eu entendo que essa condição de aprendizado se dá pelo contato com colegas que trazem uma formação, um modo de trabalhar, uma conceituação e uma visada distintas daquelas que me formaram. Com tais contribuições, a nossa compreensão do mundo se amplia muito. É preciso reiterar que esse aprendizado se dá também na interação com os orientandos, os jovens pesquisadores, graduandos e pós-graduandos que frequentemente expõem as suas questões e suas pesquisas, principalmente, durante os seminários anuais. Nesse momento nós temos a possibilidade de debater questões transversais que estabelecem relações entre diferentes. Este é o sentido que eu entendo de uma formação contínua na minha atividade e, tenho certeza também, de todos que participam do grupo”, Artur Rozestraten.
“Além de minha formação continuada como participante do grupo e docente, o grupo é muito importante para a formação de novos pesquisadores e profissionais. Exemplo disso são os alunos que participam do grupo e conseguem se desenvolver a partir da interlocução com outros participantes. Eles encontraram no grupo outras pessoas que estão realizando trabalhos parecidos e a partir daí estabelecem uma interlocução para além da relação apenas com o seu orientador ou os colegas de projeto. Outro aspecto é a polinização cruzada entre os alunos. A partir de similaridades temáticas ou metodológicas, o grupo permite que alunos vejam as relações entre diversos níveis e modalidades de pesquisa, que vão desde a iniciação científica, passam por trabalhos de conclusão de curso (TCC) e se desenvolvem na pós-graduação, em mestrado, doutorado e pós-doutorado”, Gil Barros.
CURIOSIDADE
A relação entre a expressão em Latim “Festina lente” e o logo do RITe
Existe um aspecto interessante sobre o logotipo usado pelo Grupo RITe. O logotipo, que traz uma lebre saindo de um Caracol, remete a uma máxima em Latim que se expressa como: festina lente. Esta expressão significa: apressa-te lentamente. Existem várias figurações dessa imagem, algumas mostram, por exemplo, um golfinho que é se retorce em torno do eixo de uma âncora outras mostram uma tartaruga com uma espécie de uma vela nas costas, ou seja, uma tartaruga sendo impulsionada por uma vela. Todas são representações dessa expressão em latim, a partir das quais o grupo de pesquisa RITe reflete e associa as filosofias pré-socráticas que dizem respeito a essa noção de que devemos nos apressar, mas lentamente e em certa medida devemos conjugar essas duas velocidades estando sempre em preparação, sempre atentos e cuidando da nossa formação, mas sem acelerar demais este processo e, por outro lado, sem perder uma certa velocidade nessa formação. Ou seja, um convite a uma autorreflexão sobre as nossas próprias trajetórias acadêmicas.
Sobre o Projeto Arquigrafia
Iniciado em 2009, hoje o projeto desenvolve sua “Experiência Arquigrafia 4.0” com apoio financeiro da FAPESP na condição de projeto temático até 2027. Atualmente voltado para a ampliação e consolidação da plataforma colaborativa na Web, o projeto lida com questões críticas sobre a Internet atual e o horizonte de desenvolvimento do que se entende como potencial 4.0, investindo em possibilidades de enriquecimento mútuo entre a experiência sensível cotidiana e a construção, organização, representação e recuperação de conhecimentos sobre as cidades no presente, na memória e no desejo projetual para o amanhã.
Contando com uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da FAUUSP, ECAUSP, IMEUSP, IPUSP, ICMC-São Carlos e UFSCAR, dedicados à investigação das condições contemporâneas de constituição de ambientes colaborativos autônomos na Web, o estágio atual do projeto estuda experimentalmente a “desconstrução” e a apropriação contra hegemônica de elementos e estruturas funcionais disponíveis online tais como redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, Youtube e outras), freeware, open source software, hyperlinks para resultar em protótipos experimentais concretos e consistentes para uma autonomia crítica na Web 4.0.
Esta fase da Experiência Arquigrafia 4.0 retoma hoje o trabalho que foi concluído em fases anteriores justamente com a publicação do Manual em 2018, de forma que hoje, o projeto temático FAPESP, reencontra esta iniciativa e estabelece um elo de continuidade para o futuro do projeto.
Quer saber mais? Acesse a Plataforma Arquigrafia.
Para acessar dados do Grupo RITe clique aqui:
Por Ulysses Varela – Jornalista bolsista JC-3 FAPESP junto ao projeto Experiência Arquigrafia 4.0.